07 março, 2009

Por onde andei? - uma breve biografia

Não me lembro de quando comecei a andar, era muito pequena e meu andar era de equilibrista em corda bamba.
Um andar incerto que caia de bunda no chão ao tentar dar o primeiro passo.
Como naquelas linhas evolutivas, tomei postura, erguia meu corpo a cada cair e levantar.
Andei, andei.
Andava pela mesma cidade a 17 anos, as mesmas ruas, os mesmos caminhos. Não precisava de um ponto de referência para chegar a algum lugar.
Estava em mim!
Eu conhecia aquela cidade.
Meu andar sabia por onde andava.
Novos caminhos surgiram e meu andar se tornou o andar da estrada, mudei para outra cidade.
Caminhos novos a cada dia, meu andar agora assumia a potência de um descobridor.
Descobria ruas, lugares que nunca havia pisado antes.
Fui conhecendo!
Meus pés se acostumaram com o novo ritmo de andar.
“Anda rápido para não perder a barca! Corre, o sinal já vai abrir.”
Tempo aqui é corrido, muitas coisas para fazer.
Meus pés me levam a todos os lugares.
Estão comigo na terra, no barro, no asfalto, no cimento, na água e no ar.
Por onde andei?
Meus pés me levam!
Meu corpo vai junto sentir o lugar, espaço novo que aguça minha curiosidade.
O andar equilibrista se tornou andar de andarilho.
Ainda se equilibra no meio fio, lembrando dos tempos de criança.
Tempo adulto agora, tempo de se fazer muitas coisas.
Meu andar tem que ser firme, mas não duro. Mantenho as possibilidades dele, os adjetivos que o trouxeram até aqui.
Andar equilibrista, andar viajante, andar de rua, andar de malandro, andar de menina, andar de areia, andar de asfalto, andar itinerante.
Por onde andei?
Onde estou?
Meus pés me levam num andar potente que abre caminhos para meus pensamentos.
Andar este que suporta as mudanças, os desvios.
Pé descalço, pé de chinelo, pé de tênis, pé de rasteirinha, pé de salto alto.
Pra onde eu vou?
Por onde andei!
.
* Foto tirada ontem, sexta-feira dia 6 de março de 2009 às 08:22 da manhã. Entrando na barca sentido rio-niterói!
Descrição da foto: pessoas entrando na barca, de costas para mim e ao fundo aparece o segundo andar da barca, visto de fora. Neste dia liberaram a gente pra entrar antes que todos saíssem, então foi aquela confusão gente saindo, gente entrando.

05 março, 2009

Pelas ruas...


Um dia, a noite, desviei meu caminho e segui por outra rua. De uma rua para outra o som mudou, uma voz masculina chamava a atenção dizendo:


"Eu estou em Copacabana.
Estou atrás de uma mulher de vermelho, mas ela não me vê.
Coloco a mão em seu ombro mas ela não me sente.
Você me procura e não me acha.
Ando em direção a rua.
Estou na rua Barata Ribeiro.
Atravesso a rua e paro em frente a um café.
Procuro por uma moça!
Vejo uma senhora sentada, lhe faço uma pergunta mas ela não entende.
Agora eu sou observado!
Escrevo algo no chão mas você não consegue ler, não entende.
Um homem passa por mim, faço um sinal mas ele não me vê.
Eu te vejo e você não me vê.
Agora você me vê mas não me entende...”**


O som assumia o fluxo da rua, não dava para saber de onde vinha a voz.
Procurei pela mulher de vermelho para tentar achá-lo.
Quando a voz disse que estava atravessando a rua, eu o achei. Era um homem trajando um terno escuro, sapatos sociais e um guarda-chuva azul aberto sobre sua cabeça. Para que o guarda-chuva se não estava chovendo? Será que ele estava tentando esconder sua identidade? Então porque dava pistas para acharmos?
Eu fiquei ali parada em uma esquina observando. Observava o homem de terno escuro e as pessoas que passavam. Algumas nem notaram a sua presença, outras paravam, olhavam desconfiadas, achavam engraçado e até riam.
Para mim foi encantador, me fez pensar o lugar que habitamos que se tornou habitual.
Se não fosse a voz será que eu notaria a presença do homem de terno escuro?
Há algum tempo notei que meu andar e meu olhar estão mudando. Ando como quem anda atoa pelas ruas e não tem pressa de chegar ao seu destino. Se bem que meu andar continua rápido, andar que adquiri por anos andando com meu irmão, ele com suas pernas longas que um passo apenas são 2 do meu.
Nesse olhar-observador me coloco como parte e não à parte da cidade. As trajetórias que faço no meu cotidiano se confundem com a de muitas pessoas. São caminhos que se cruzam, experiências múltiplas que se fazem no dia-a-dia e que dão uma essência inventiva ao lugar que habitamos.
Rio de Janeiro, cidade maravilhosa! Por quê? Por causa das praias, cristo, pão de açúcar...? Quem deu esse nome a ela foi um de nós,ou melhor, todos nós que fomos à praia, subimos o pão de açúcar e fomos recebidos de braços abertos pelo Cristo e também pelas fotos vistas em qualquer lugar do mundo.
A cidade se faz na relação com o sujeito.
Damos corpo à cidade e nos fazemos corpo ao mesmo tempo. Corpo-cidade e Corpo-sujeito!
O espaço urbano me instiga a pensá-lo.
Não habitamos, nos habituamos.


* Foto da Rua Toneleiros esquina com a rua Figueiredo Magalhães, Copacabana. Saída do metrô Siqueira Campos.
** Esta fala não sei o autor. Ela deve ser compor a cada rua que o homem de terno escuro passar, mas acho que é de uma peça de teatro, não sei o nome, quando eu descobrir coloco aqui.
.
Descrição da foto: Nesta foto aparece as ruas, como ja falei acima, mas como é saída do metrô tinha muita gente na rua, aliás mais gente do que carros. Então, é uma foto de cima, eu estava na cobertura de um prédio e lá do alto se via a quantidade de pessoas atravessando a rua, nas calçadas e no meio da rua.

03 março, 2009

Ato de escrever, ato de andar, ato de olhar... encontrar


Me deparei com a escrita como quem tropeça no meio da rua e passa o dia todo com o dedão do pé latejando. Bem assim!
Comecei com textos pequenos e agora me aventuro em textos maiores, chegando até a ter capítulos.
Crio personagens para perambularem comigo pela cidade.
Escrevo sobre os encontros que tenho na rua, na faculdade, na praia, desde uma conversa sentada na grama até uma onda que empurra meu corpo na água.
Estou como na foto, aberta para o que posso encontrar, estes encontros podem me fazer aproximar ou me afastar, mas isto sempre acompanhado de um questionamento, de um fazer pensar sobre ele.
Me lembro de um texto que li ano passado. Eu o encontrei em um dia que não tinha quase ninguém na faculdade porque já era Dezembro, e eu fui fuxicar a pasta do professor Luis Antonio e encontrei este texto, chamado "A arte de andar nas ruas do rio de janeiro". Em algum momento o autor se refere a um olhar panorâmico, e eu fiquei com isso na cabeça pensando como seria um olhar panorâmico da cidade.
Dias depois subi a trilha do pão de açucar e lá em cima, olhando a vista pensei: "isto é a vista panoramica do Rio de Janeiro". Mas quando isto se junta ao ato de escrever me pareceu algo contraditório.
Porque o que eu busco são os encontros, como vou "encontrar" se me coloco de cima olhando?
Isto geraria um distanciamento. Dúvidas e contradições foram o que se formaram.
Mas andando pela rua e pensando sobre isto pensei em uma coisa: quando olho para frente muitas coisas se sobrepõem ao meu olhar, criando barreiras que me impedem de ver outras coisas, e tendo um olhar panorâmico eu não faria distinções, tudo estaria em um mesmo plano.
Conseguem entender?
Não quero falar de modo dificil e acho que nem preciso usar palavras quase nunca usadas para dar base aos meus pensamentos.
Penso deste modo e até na escrita dos meus textos eu tento manter esta simplicidade para que mais pessoas possam ter contato com o que escrevo.
Pensamentos meus que se fazem na rua mesmo, com duas senhoras catando comida numa lata de lixo antes de ser virada no caminhão, com as vozes estrangeiras que ouço a todo momento, uma buzina de carro, uma musica, o balançar da barca na água, as pessoas se espremendo nas janelas quadradas para ter um pedacinho da vista da baía, a conversa com o porteiro nordestino.... simples assim!
Eu ainda procuro um modo de olhar a cidade, penso que não há um modo determinado para isso!
Mas busco um olhar que não se feche apenas ao ato de ver/olhar, mas que carregue todos os outros sentidos. Como meu corpo é afetado?
"Nosso pensamento-corpo-afeto não tem essência, depende da composição de forças, da geografia, das paisagens, texturas, temperaturas. Nos tornamos outros em cada momento!"*
.
* frase da Cris Knijnik em um email que ela me mandou!
.
Descrição da foto: Foto tirada em Barra de Guaratiba, eu estou em cima de uma pedra e de braços abertos.