05 março, 2009

Pelas ruas...


Um dia, a noite, desviei meu caminho e segui por outra rua. De uma rua para outra o som mudou, uma voz masculina chamava a atenção dizendo:


"Eu estou em Copacabana.
Estou atrás de uma mulher de vermelho, mas ela não me vê.
Coloco a mão em seu ombro mas ela não me sente.
Você me procura e não me acha.
Ando em direção a rua.
Estou na rua Barata Ribeiro.
Atravesso a rua e paro em frente a um café.
Procuro por uma moça!
Vejo uma senhora sentada, lhe faço uma pergunta mas ela não entende.
Agora eu sou observado!
Escrevo algo no chão mas você não consegue ler, não entende.
Um homem passa por mim, faço um sinal mas ele não me vê.
Eu te vejo e você não me vê.
Agora você me vê mas não me entende...”**


O som assumia o fluxo da rua, não dava para saber de onde vinha a voz.
Procurei pela mulher de vermelho para tentar achá-lo.
Quando a voz disse que estava atravessando a rua, eu o achei. Era um homem trajando um terno escuro, sapatos sociais e um guarda-chuva azul aberto sobre sua cabeça. Para que o guarda-chuva se não estava chovendo? Será que ele estava tentando esconder sua identidade? Então porque dava pistas para acharmos?
Eu fiquei ali parada em uma esquina observando. Observava o homem de terno escuro e as pessoas que passavam. Algumas nem notaram a sua presença, outras paravam, olhavam desconfiadas, achavam engraçado e até riam.
Para mim foi encantador, me fez pensar o lugar que habitamos que se tornou habitual.
Se não fosse a voz será que eu notaria a presença do homem de terno escuro?
Há algum tempo notei que meu andar e meu olhar estão mudando. Ando como quem anda atoa pelas ruas e não tem pressa de chegar ao seu destino. Se bem que meu andar continua rápido, andar que adquiri por anos andando com meu irmão, ele com suas pernas longas que um passo apenas são 2 do meu.
Nesse olhar-observador me coloco como parte e não à parte da cidade. As trajetórias que faço no meu cotidiano se confundem com a de muitas pessoas. São caminhos que se cruzam, experiências múltiplas que se fazem no dia-a-dia e que dão uma essência inventiva ao lugar que habitamos.
Rio de Janeiro, cidade maravilhosa! Por quê? Por causa das praias, cristo, pão de açúcar...? Quem deu esse nome a ela foi um de nós,ou melhor, todos nós que fomos à praia, subimos o pão de açúcar e fomos recebidos de braços abertos pelo Cristo e também pelas fotos vistas em qualquer lugar do mundo.
A cidade se faz na relação com o sujeito.
Damos corpo à cidade e nos fazemos corpo ao mesmo tempo. Corpo-cidade e Corpo-sujeito!
O espaço urbano me instiga a pensá-lo.
Não habitamos, nos habituamos.


* Foto da Rua Toneleiros esquina com a rua Figueiredo Magalhães, Copacabana. Saída do metrô Siqueira Campos.
** Esta fala não sei o autor. Ela deve ser compor a cada rua que o homem de terno escuro passar, mas acho que é de uma peça de teatro, não sei o nome, quando eu descobrir coloco aqui.
.
Descrição da foto: Nesta foto aparece as ruas, como ja falei acima, mas como é saída do metrô tinha muita gente na rua, aliás mais gente do que carros. Então, é uma foto de cima, eu estava na cobertura de um prédio e lá do alto se via a quantidade de pessoas atravessando a rua, nas calçadas e no meio da rua.

6 comentários:

  1. Interessantes as questões que voce levanta.
    O urbano se configura além do espaço.
    Voce porderia trabalhar mais os conceitos de corpo-cidade e corpo-sujeito.
    Parabéns pelo blog e boas aventuras para você.
    O homem do terno poderia ser qualquer pessoa.
    abraços

    ResponderExcluir
  2. A cidade é mais do que a geografia realmente, a geografia é parte da cidade, mas não seu todo. A parte física da cidade (suas belezas naturais, construções históricas, pontos turísticos) são objetos para serem vendidos em cartões postais. Aqueles que vivem na cidade conhecem uma realidade diferente, uma realidade mais completa... As definições humanas costumam ser moldadas pela própria visão humana sobre os objetos, neste caso os próprios habitantes são o objeto de nosso argumento. A cidade é tudo isso, uma pessoa, um casal, uma comunidade, vidas se cruzando nas ruas, histórias contadas nas paradas de ônibus... tudo isso com um cenário bonito de fundo ^^.

    Queria poder conhecer a verdadeira Rio de Janeiro, e não só seu plano de fundo.

    Bjs pra tih Jo, ótima reflexão no post.

    ResponderExcluir
  3. É menina, está uma correria só. Estou aqui agora porque não precisei ir para a aula da Cia. Doc-Dança, senão só chegaria em casa lá para ás 23hs. Aqui é muito corrido e árduo para quem quer ser artista. O dinheiro é escasso, a vontade e a sede de conhecimento, formação é muita, que bom!!!
    Isso compensa e me engrandece, tenho ímpetos de felicidade.
    Estou participando de uma oficina de teatro, está sendo bem interessante. Tem coisas que valem tanto para a dança e para o teatro, é difícil separá-los... Apesar de que nessas aulas de teatro eu sempre penso que não posso dançar, pelo menos não jogar só movimentos para mostrar o quanto tenho de entendimento físico, alongamento, flexibilidade, porque isso não é nada para alguém que se propõe a criar o seu próprio método investigativo de/para o corpo.
    Ceronha Pontes ela fala uma citação que é a seguinte:
    O mundo está cheio de espetáculos de teatro ( e de dança). O mundo não precisa de mais um. Por que você quer dar ao mundo e às pessoas outro espetáculo?
    Ela está me deixando angustiada, o que é bom. Estou me perguntando constantemente em que a minha arte, a minha dança pode contribuir hoje. Se eu sou só mais uma no meio da multidão que faz teatro ou dança... Outra que me carcumeia é Andrea Bardawil, essa grande mulher você tem que conhecer! É uma figura. As palavras dela é daquelas que ecoa na sua cabeça, que não lhe deixa dormir, que lhe permite estar atenta a todas as ligações possíveis do seu cotidiano-mundo com o que você faz, de prazeroso, porque quer e busca. Se é dança, se é artes plásticas, pouco importa... Seu entendimento de corpo e pensamento vai além.
    Estou me organizando mais, em breve mais contatos...
    Ah, e sim, tem a revista em papel, vou tentar arranjar um para você e mandar por Tatiana...
    Ela vai para o Rio porque está indo para a ESCOLA NACIONAL DE CIRCO. Aqui lhe respondo o porquê da minha não ida: eu não tenho nada a ver com técnicas circenses. Sei pouco dar cambalhotas, e olhe lá! Vou ficar para dar continuidade a Cia., as aulas, as pesquisas de movimentações, a tudo, a minha vida, principalmente...
    Até breve.

    ResponderExcluir
  4. Lendo essa sua postagem lembrei do que nos uniu: o falar da cidade, das possíveis maneiras que podemos revisitá-la, sermos corpos observadores desse cenário comum e que tantas vezes passamos sem percebermos seus detalhes, suas cores, a forma... Desde que tive o prazer de ficar mais próxima de Fernanda Eugênio eu nunca mais vi a cidade, as ruas, os caminhos como passagem, só como passagem, trânsito de gentes e nada mais.
    Os lugares tomaram ambientações outras, sentidos pessoais acentuados, relações de aproximidade, medo, de descoberta, de perceber meio que na surdina que estava sendo vista por algum outro par de olhos, e que ela, a pessoa, se foi com uma imagem de mim, que nem eu mesma a tenho. Quadros fotográficos... Gosto de fazer experimentações nas ruas, de interferir no cotidiano dos outros, parece-me que todos no centro da cidade andam com as cabeças viradas para cima, não mais se questionam o porquê de estar ali e não em outro lugar. As colocações das praças, os nomes das ruas, a história urbana construída fato por fato, dia após dia, barracos e favelas...
    Veio agora uma ideia: que tal juntarmos e fazermos uma pesquisa sobre tudo isso por meios online? Dividir textos, discutir textos, não deixar esse tempo morrer...
    É possível, será???
    Agora me vou de verdade.
    Gostei de sua escrita. Ela me toma.

    ResponderExcluir
  5. Oi Jô!!!
    Pô primeiro vou dizer do blog q tá mt lindo msm, a sua cara, borboletinhas e tudo... deve ter tido ajuda p fazer hein pode falar!!! hehehehhe

    Bom em relação ao texto, a sua escrita... direi a msm coisa qnd li sua primeira obra (q alias espero continuação hein... rsrs), vc tem um talento incrível, escreve maravilhosamente, tem uma cabeça super boa, e mt inteligente... com certeza vc tem mt futuro com issu... só usar os talentos q Deus te deu e continuar nessa caminhada de sucesso... pq pra nós q te conhecemos, já sabemos o quão maravilhosa Jô Conti eh... e quem vê suas palavras viram fã de imediato!!!

    Mt sucesso Jô! Parabenss!

    Bjosss

    Léo

    obs: essa parceria saiu ou naum hein??? eita!!! hahaha

    ResponderExcluir
  6. Jô, que graça a sua escrita, que interessante sua visão! Acho que quando nos dedicamos à escrita, é justamente a isso que nos treinamos: observar o comum como único, ouvir uma história em primeira pessoa, dar nomes aos anônimos que poderiam se perder na confusão das ruas.
    Ah, escrevi um texto novo! Se puder, dá uma passandinha lá!
    E vê me ensina a colocar essas fotos também, seu blog tá lindo!

    Bjokas!

    Lu

    ResponderExcluir